Não tem nada mais rico do que uma conversa com uma criança de 7 anos. Aliás, tem sim. A resposta que os pais dão para perguntas sem respostas, como o lance da cegonha, porque o pipiu deles fica duro, o significado dos palavrões, porque as pessoas tomam cerveja e ficam engraçadas, enfim, essas coisas.
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Outro dia minha sobrinha perguntou ao pai dela o que era “vai tomar no c” e ele começou sua explicação mostrando o dedo médio. Minha irmã quase deu uma voadora em cima dele e disse que ela mesmo explicaria. Minha sobrinha olhou para ela esperando a informação e minha irmã travou. “É um palavrão”.
Minha sobrinha respondeu dizendo que sabia que era um palavrão, que sabia que não podia falar porque era falta de educação, mas ela queria entender o significado, e ainda argumentou: Quando uma criança chama a outra de “chata” é porque a outra não é legal, divertida, parça, brother. E quando alguém manda o outro tomar nesse lugar aí, tá querendo dizer o quê?
Bom, significa que a outra pessoa não é legal, divertida, parça, brother e que teve uma atitude tão ruim, que falamos esse palavrão. Mas não é legal falar palavrão.
Aí o nó está estalecido. Não é legal, mas você fala, mas não pode falar, e se você faz uma coisa que não é legal e não pode falar então, você fica de castigo?
Quando for adulta, você vai entender. Até lá, não fale palavrões.
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Segundo nó do dia, agora comigo:
– Mãe, me explica esse lance de cegonha? Nunca vi nenhuma aqui no Brasil..
Pensei em responder o que todos pais respondem com muitas flores e personagens imaginários, mas achei mais digno responder a verdade. Respirei fundo, e disse:
– Substantivo feminino, design. comum às aves ciconiíformes da família dos ciconídeos. Grande ave migratória e pernalta, encontrada na Europa, África e Ásia / Caminhão de grande porte para transporte de automóveis.
Tá escrito no Google. E se está escrito no Google, fim de papo. Mas como ele fez cara de “mãe, fala sério!?”, continuei.
-Você não vê muitas cegonhas aqui no Brasil porque elas são encontradas principalmente na África, Europa e Ásia. Quando você vê alguma, são de outro tipo, do tipo que transporta carros.
Ele ficou revoltado, falou que queria saber porque todo mundo diz que os bebês vem da cegonha, e eu sem mais o que dizer, e ainda com tom de brincadeira disse: Todo mundo diz? Mas eu não sou “todo mundo”, nem você! Consegui a ira dele e também a desistência. Não me recriminem, eu vou contar para ele, mas me conheço o suficiente para saber que qualquer resposta realística que eu pudesse dar naquele momento seria mais traumática. Vou encontrar o momento e a luz perfeita para contar para ele que papai e mamãe se deitaram e papai colocou uma sementinha Y na mamãe.
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Terceiro nó do dia: Mãe, porque meu pintinho fica duro?
– Não sei, meu filho. Vou procurar no Google.
Ele olhou para mim, riu e fomos tomar café da manhã felizes. Não me perguntou de novo e eu achei isso um máximo.
Cara, não estou fugindo da tarefa materna de explicar as coisas e o mundo, estou tornando os assuntos mais interessantes, explicando ironias, duplas interpretações, jogos de palavras. Deve ser muito bom ter uma mãe “palhacita” em casa. Quando ele realmente quiser saber, vou conversar. Não existe hora nem momento, mas não precisa fazer disso tudo um acontecimento sério e cheio de cerimônia, e a melhor maneira de fazer isso é sorrindo de uma maneira insana!