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No ano de 2018, foi registrado que 57% dos partos realizados no Brasil foram cesarianas, sendo que a taxa recomendada pela OMS para o procedimento gira em torno de 15%. O número assusta, ainda mais pelo fato de que grande parte dessas cirurgias são feitas de maneira eletiva, sem realmente nenhuma necessidade médica.
Enquanto isso, em um outro espectro, a discussão acerca do parto humanizado também ganha força. Buscando ressaltar o protagonismo da parturiente, essas mulheres defendem o respeito ao processo natural do parto, sem a realização de procedimentos que não sejam estritamente necessários e previamente autorizados.
O que é o parto humanizado?
O conceito de parto humanizado nasceu em meados dos anos 70, quando o médico francês Frederick Leboyer passou a criticar o excesso de procedimentos e intervenções durante o nascimento, um momento que ele considerava natural e particular para cada mulher. Além do fim das intervenções, Leboyer defendia que fosse tido um cuidado mais especial com a mãe e o bebê neste processo, para que pudessem vivenciar a complexidade e riqueza desta experiência.
Ao contrário do que muitos podem pensar, humanizar o parto não se refere a um tipo de parto em específico. O parto humanizado pode ser realizado em casa ou em um centro cirúrgico, mas deve sempre respeitar as decisões da mulher e a fisiologia natural do corpo e do processo do nascimento.
O Manual Técnico de Assistência Pré-Natal desenvolvido pelo Ministério da Saúde classifica o parto humanizado como uma relação de respeito entre a parturiente e os profissionais que a atendem naquele momento. O Manual ainda discorre que o profissional deve aceitar o local e o acompanhante de escolha da mulher, bem como promover seu bem-estar físico e emocional, respeitando suas escolhas naquele momento.
Vantagens do parto humanizado
Humanizar o parto tem impacto tanto sobre a mãe quanto sobre o bebê, porém as vantagens para cada um serão ligeiramente diferentes.
Para o bebê
Um processo de nascimento humanizado para o bebê irá trazê-lo ao mundo de uma forma muito mais delicada, dando tempo para que se acostume com o espaço novo ao seu redor. Uma das práticas é não cortar imediatamente o cordão umbilical, dando tempo para que ele se acostume a respirar com seus pulmões.
Além disso, é incentivado o primeiro contato do bebê com a mãe, sem levá-lo imediatamente para um berçário. A primeira amamentação deve ser feita ainda na primeira hora de vida, como preconiza a Organização Mundial da Saúde, fazendo com que mãe e filho estabeleçam uma conexão e que o recém-nascido já receba as defesas imunológicas promovidas pela prática.
Para a mãe
Para a mulher, o parto humanizado pode ser empoderador, visto que não segue necessariamente os protocolos médicos, e sim aquilo que a deixa mais confortável. É dada a possibilidade da mulher escolher em qual posição prefere ter seu bebê, bem como se quer caminhar para amenizar as dores no parto e deixar a gravidade agir durante o processo de dilatação.
Outro ponto importante é que adotar uma forma humanizada de parto diminui os riscos de que ocorram casos de violência obstétrica. Todo e qualquer procedimento a ser realizado deve ser consultado e consentido pelas parturientes, desde a aplicação de uma anestesia a uma processo mais invasivo.
A recuperação também é um fator positivo. Quanto mais natural o processo e sem necessidade de intervenções médicas, mais rápido será o processo de recuperação da mulher no pós-parto.
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Violência obstétrica
A decisão de muitas mães em decidir por procedimentos mais humanizados partem do medo de sofrerem algum tipo de violência neste processo. Violência obstétrica é caracterizada como qualquer ato violento, seja de natureza física ou psicológica, que possam ocorrer durante o parto.
De acordo com dados da Fundação Perseu Abramo, uma em cada quatro mulheres brasileiras já sofreu algum ato de violência física ou psicológica durante o parto. Submeter a mãe a uma cirurgia que não é realmente necessária, agressões verbais ou negligência por parte da equipe médica são alguns exemplos.
Além disso, realizar procedimentos desnecessários e ultrapassados como a episiotomia (corte no períneo) e o uso do fórceps, são algumas das situações as quais muitas brasileiras são submetidas no momento que é um dos mais importantes da sua vida.
Qual parto pode ser humanizado?
Apesar de muitos confundirem o parto humanizado com o parto domiciliar, deve-se esclarecer que são coisas completamente diferentes. O parto normal não é necessariamente humanizado, visto que existem relatos de mulheres que não tiveram suas vontades respeitadas ou foram submetidas a procedimentos não autorizados.
Enquanto isso, uma cesariana, apesar de não se encaixar completamente na definição por ser uma cirurgia, também pode se tornar mais humana para recepcionar o bebê e deixar a mãe mais confortável. Em suma, o parto humanizado pode ser qualquer tipo de parto, desde que por trás dele haja um processo que coloque a mãe no centro da ação, respeitando suas escolhas, seja ele feito em casa ou em um centro cirúrgico.
Pré-natal humanizado
A humanização do parto não acontece apenas no momento do nascimento, é um trabalho que começa a ser realizado muito antes, preparando a mulher física e psicologicamente para aquele momento. É cada vez mais comum que a mulher decida ter o acompanhamento de uma doula, profissional que ficará focada no seu bem-estar antes e durante o parto. É importante ressaltar que desde o ano de 2016 foi sancionada uma lei que libera a presença das doulas nas salas de parto em São Paulo.
Durante este processo, a mulher pode escolher desde o lugar que vai dar à luz e quem irá acompanhá-la, a acrescentar detalhes menores ao seu plano de parto, como a iluminação ou uma playlist de músicas. É importante acrescentar que o fato da parturiente escolher uma intervenção ou medicamentos não torna o parto menos humanizado, desde que isso seja uma escolha.
Empoderamento feminino
É importante esclarecer que o parto humanizado não prega a superioridade de um tipo de parto sob o outro. O que defendido é que a mulher sempre tenha o seu direito de escolha respeitado neste momento.
Sendo assim, a mulher nunca deve se sentir inferiorizada por não conseguir ter um parto natural ou até mesmo optar por fazer uma cesariana. Agora, se algum profissional te colocou uma intervenção cirúrgica como única escolha durante o período pré-natal e isso não é o que você quer, saiba que existem outras opções. Procure por outros profissionais e faça deste momento o mais confortável para você.