Existe uma grande nuvem de dúvidas que paira em cima do conceito de “estresse”. Muitas pessoas acreditam que quando alguém se diz estressado, está criando uma desculpa para não encarar seus problemas. Mas o estresse está longe de ser isso, e tanto na gestação quanto na amamentação, merece toda atenção.
Primeiro um conceito. O que seria o estresse?
“O estresse acontece quando qualquer demanda externa excede a capacidade adaptativa do organismo, gerando respostas comportamentais, emocionais, cognitivas e biológicas com inúmeros efeitos colaterais para a saúde mental e física do indivíduo”.
Essa definição de Schetter CD. publicada na Revista Debates em Psiquiatria de maio/2013 é muito esclarecedora. Basicamente, o estresse acontece quando nossas capacidades físicas e emocionais não conseguem lidar com um problema. Considerando que todos nós temos uma limitação, é certo que todos vivemos momentos de estresse ao longo da nossa vida.
Quando estamos grávidas ou no período de amamentação, os efeitos causados pelo estresse não se limitam à nós, eles são passados para o bebê. Mas aí voltamos a pergunta central do post: O estresse seca o leite materno?
A resposta é não. Ele não seca, mas como afeta nosso organismo e hormônios, prejudica de outras maneiras, e as pesquisas comprovam isso.
Quando uma mulher grávida vive um momento ou situação de estresse, libera em seu corpo milhares de hormônios e estímulos que podem prejudicar o desenvolvimento do feto. No primeiro trimestre o desenvolvimento do cérebro é mais ativo, e um evento nesse período pode influenciar no comportamento do bebê em sua infância e fase adulta, com números que apontam maior possibilidade de hiperatividade e déficit de atenção em meninos e ansiedade e depressão em meninas.
Uma pesquisa feita com 300 mulheres que estavam no primeiro trimestre da gravidez quando houve o ataque terrorista ao World Trade Center concluiu que o número de partos prematuros foi maior do que as mulheres que estavam em estágios mais avançados da gravidez.
Mas isso não faz com que o cuidado com o estado emocional da grávida no segundo e terceiro trimestre possam ser menores. Outros estudos apontam o segundo e o terceiro trimestre como mais importantes, com resultados que apontam consequências de má-formação do sistema reprodutivo e infertilidade. Além das questões físicas, comportamentos hiperativos, dificuldades de aprendizado, depressão e esquizofrenia também são relatados.
A produção de leite para a amamentação é estimulada pela correta “pega” no bico do seio da mãe e pela sugada no peito pelo bebê. Esse movimento imediatamente aciona o hipotálamo para a liberação do hormônio prolactina, responsável pela produção de leite.
Os principais hormônios liberados durante um período de estresse são o cortisol e a adrenalina, que não afetam ou interferem na produção da prolactina e portanto não tem “o poder” de secar a produção de leite.
Mas o organismo em estado de estresse prolongado tem efeitos fisiológicos que podem afetar não somente a amamentação, como também o organismo de forma geral. O sistema imunológico fica mais frágil e potencializando o risco de hipertensão, por exemplo. Esse cenário de baixa imunidade e uma fissura no bico do seio pode trazer um problema sério de infecção e necessidade de interrupção da amamentação temporária ou definitivamente.
Fato é que durante a gestação do bebê, a programação fetal é composta pelos fatores genético dos pais, e também pelo ambiente materno (seus sentimentos e seu organismo, que deve ser bem nutrido e etc). Muito se fala sobre a origem de várias doenças estar associada a esta programação fetal e também ao período de amamentação. Se o estado emocional altera tanto o ambiente materno, é melhor cuidar dele com a mesma atenção que se dá à nutrição e ao corpo.
Portanto, se necessário, compartilhe este post com as pessoas que estão à sua volta, é importante para que elas saibam que também podem contribuir para sua gestação. Tente resolver problemas pessoais sem exaltação e não se envolva com os sentimentos de insegurança em relação à gravidez e capacidade de se tornar mãe. Você é capaz e nesse momento, seu equilíbrio emocional é importante também para seu bebê.
fonte: Revista Debate em Psiquiatria – A influência do Estresse na Gestação
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