Até os dois anos, fugir de brinquedos com pilhas e baterias é a melhor opção, diz especialista.
Desde o nascimento da criança, os pais buscam informações e especialistas que ajudem a promover o desenvolvimento cognitivo dos seus filhos, especialmente até os dois anos de idade. E estão certos em fazer isso.
Com base no entendimento das fases de desenvolvimento das crianças, é possível escolher e fazer brinquedos que sejam naturalmente atrativos e estimuladores, e uma importante ferramenta de desenvolvimento.
Há formas, inclusive muito divertidas para as crianças, de incentivá-las nesse desenvolvimento, encorajando os pequenos a criarem e montarem, desde o início, o que vão usar para brincar.
Mas, antes de sair correndo para a primeira loja de materiais para montar um brinquedo novo para o filho, é preciso ficar atento à idade e ao que é preciso para o desenvolvimento de cada faixa etária.
De 0 a 24 meses, por exemplo, as crianças estão no período conhecido como sensório-motor, ou seja, uma época que estão aprendendo a desenvolver os sentidos e a motricidade. “Nós temos cinco sentidos, certo? Errado. Nós temos, na realidade, sete: visão, audição, olfato, paladar, tato, equilíbrio e propriocepção, que é o termo usado para definir o reconhecimento do indivíduo em relação à localização espacial do corpo, inclusive a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte. Nesta fase, os brinquedos sensoriais são os mais importantes, pois vão aguçar cada sentido”, comenta Juliana Trentini, também autora do livro “Aprendendo a Falar”.
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De 0-6 meses recomenda-se brinquedos de chacoalho, por exemplo, que vão ajudar a criança a identificar o som; coisas com cores e formas diferentes, que aguçarão a visão; bonequinhos que sejam articulados e tenham diferentes texturas, para que a criança exercite o tato, também são excelentes etc. “Nessa fase, as crianças também trabalham a coordenação visomotora, que associa o que ela vê com os movimentos do objeto.
Desta forma, ela entende pela visualização como funciona determinado objeto. Para quem souber costurar, pode cortar tirar como se fossem camadas das bolas, fazer um enchimento com fibras para que fique fofinho e colocar um o guizo dentro. Ainda bem pequeno, não é possível contar com a ajuda do bebê para fazer, mas pode-se escolher tecidos que façam parte do quarto, por exemplo, para que, além da audição, trabalhe a visão.
Esse brinquedo também vai fazer a criança trabalhar a coordenação motora, pois ela vai passar a bola de uma mão para a outra; o barulho vai fazer ela trabalhar a discriminação auditiva, que ajuda a reconhecer e lembrar os sons. Outro brinquedo é o chocalho, que pode ser feito com colheres de sopa de plástico, grãos para colocar dentro das duas colheres e fita adesiva para fechar”, explica.
E um detalhe importante: como é normal os bebês levarem objetos à boca, na hora de escolher como vai montar os brinquedos, lembrem-se que as peças devem ser laváveis, duráveis, seguras e não podem ter peças pequenas que se soltem.
Mas, que relação as habilidades que envolvem o desenvolvimento sensorial e motor tem com a fala? “A relação é muito íntima, o pico de novas sinapses formadas para o desenvolvimento sensorial precede o pico de novas sinapses formadas para a linguagem, justamente porque o sensorial é a porta de entrada para todos os conhecimentos de linguagem”, pontua Juliana, que também é criadora do ‘Curso Fala Bebê’, de estimulação caseira da fala e da linguagem.
Já para crianças entre seis e 12 meses, além das habilidades necessárias na faixa etária anterior, é preciso estimular também a percepção da vibração, dos sons naturais, tato, texturas e materiais diferentes. Nessa fase, também estão trabalhando muito a percepção visoespacial.
Ou seja, sabem mexer as mãos e pés, estão engatinhando, alguns estão até andando. “Pense no ponto de vista da criança. Até os seis meses ela está parada e o universo gira ao seu redor. Quando começa a engatinhar e andar, e ganha o mundo, aí o mundo para e é ela quem anda. A criança começa a conseguir calcular distâncias. Ainda não tem movimento de pinça, mas já consegue segurar em blocos.
E para os pais fazerem com os filhos, duas dicas são uma pulseirinha com tampinhas de garrafa pet e um brinquedinho de potinho para mirar bolinhas, que têm custo praticamente zero. Pegue uma linha da cor da escolha do seu filho e junte umas 15 tampinhas de garrafas pet coloridas. Faça furinhos no meio e peça ao seu filho para ajudar a passar essa linha entre as tampinhas. Ficará como um “varalzinho” de tampinhas. Depois, é só amarrar as pontas e terá uma pulseira. A criança poderá colocar e tirar, mexer para fazer barulhinhos, pendurar em outro objeto para brincar etc.
Além disso, você pode também pegar essas embalagens de lenço umedecido que vem em potinhos, cortar a parte que puxa o lenço para tornar “a boca” maior, e usar como algo para as crianças jogarem bolinhas. Para os pequenos participarem, peça ajuda na hora de decorar o pote – normalmente a embalagem vem com um adesivo da marca; basta tirar que ficara da cor original e pode pintar em cima”.
Entre 12 e 24 meses, as crianças ainda estão no período sensório-motor ainda, mas já indo para o pré-operatório, e aí acontecem várias mudanças no desenvolvimento dela, inclusive a desenvolver a coordenação um pouco mais fina. “É um período em que se estimula muito o lúdico, é quando surge o faz de conta. Então, pode fazer, por exemplo, fantoches, que trabalham não apenas o tato e coordenação na hora de movimentar o brinquedo, mas também a fala, já que eles “conversam” com os pequenos.
Outro brinquedo que pode ser feito em casa são as garrafas pintadas com coisinhas dentro, para trabalhar a audição e a visão do colorido. Outra brincadeira que as crianças adoram colocar a mão na massa, literalmente, é fazer massinhas. Você pode pegar receitas atóxicas na internet, fazer com cores diferentes e estimular os filhos a fazerem bolinhas, cobrinhas, casinhas etc. Ao fazer a massinha, serão trabalhadas a textura, a temperatura, a força e a coordenação para misturar”, pontua Juliana. E complementa: “essas são sugestões de brincadeiras que vão estimular as crianças, mas não quer dizer que não poderão usar brinquedos prontos. Há diversas opções no mercado que podem ser compradas e desenvolvidas por especialistas no assunto.
Mas quando se ensina a ‘produzir’ os próprios brinquedos, isso vai além do que apenas o brincar proporciona. É trabalhada ainda mais as coordenações; o raciocínio, já que a criança tem que pensar onde entra cada ‘pedaço’ do brinquedo na hora de montar, entre outras habilidades”, complementa.
E um alerta importante sobre brinquedos com muitas funções que prometem entreter a criança por muito tempo, sem que a criança precise interagir para que ele funcione. “Um carrinho que rode, acenda luzes, tenha barulho etc, realmente chama a atenção, mas nada fará pelo desenvolvimento da criança, pois ela apenas vai olhar.
O problema é que muitas vezes os pais compram por achar que são os brinquedos que os pequenos mais se interessam. Mas se os responsáveis quiserem, de fato, aliar brincadeira e desenvolvimento, devem ficar longe desses produtos.
Ou seja, fugir de brinquedos com pilhas ou baterias enquanto os filhos ainda são pequenos. E mais: além de incentivar o desenvolvimento dos filhos, “construir” brinquedos com eles será uma excelente oportunidade para perceber como reagem a cada brincadeira, permitindo, inclusive, saber se estão com problemas para acompanhar e realizar alguma etapa.
Porém, para quem quiser adquirir brinquedos mesmo assim, aqueles que são feitos de peças com as quais a criança pode construir suas brincadeiras são uma excelente opção, como blocos de montar, magnéticos ou de encaixe. Miniaturas de personagens ou objetos também favorecem a criação de histórias e narrativas a partir dos 18 meses”, conclui.
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