Depressão pós parto – Mais respeito, por favor!

É tão difícil assumir nossas fraquezas, medos e limitações da vida. E quando se trata da maternidade, isso é ainda mais difícil, e por isso a depressão pós parto não é evidenciada na mídia e nem tratada na novela das nove como outras doenças e distúrbios são.

No íntimo das mães, todas possuem um momento de sua maternidade em que elas poderiam contestar seus sentimentos por seus filhos. No íntimo dos irmãos mais velhos e dos maridos também, porque a depressão pós-parto não atinge somente à mãe, mas todos que possuem relação direta com o bebê que nasce. Os maridos tendem a se sentir menos importante e receberem menos atenção e importância ou até demonstrarem frustração em relação ao sexo do bebê. E os irmãos mais velhos tendem a regredir em termos comportamentais e desenvolver um sentimento temporário de desprezo pela mãe e pelo novo membro da família.

Então, primeiro preconceito a ser retirado: A depressão pós parto não é só da mulher. Pode ser de toda família.

Segundo ponto. Quais são os fatores que antecedem a depressão pós parto? Existe uma pré-disposição? É um nível de maldade? São pessoas que nunca deveriam ter filhos?

As pessoas que apresentam um quadro de depressão pós-parto são tão normais quanto eu e você. Alguns estudos na área da psicologia indicam que esse quadro é desencadeado pelo sofrimento do próprio parto. Aonde o conforto e a segurança da barriga da mãe deixam de existir e a criança, mesmo levando uma vida normal e crescendo, ao chegar no ponto crucial e igual ao seu nascimento, revive esses sentimentos de separação e ausência de segurança. Por isso falar e combater a violência obstétrica é tão importante, seus efeitos são mais profundos que imaginamos (leia o link para saber todos os tipos de violência obstétrica).

É sabido também que a grávida, que carrega aquele bebê na barriga consigo todo o tempo e tem uma relação totalmente exclusiva de contato com o bebê, sente a separação, a perda da exclusividade e até o ciúmes por ter que compartilhar o seu bebê.

Por isso, segundo preconceito a ser retirado: Uma pessoa com depressão pós parto não é má. Ela tem coração e sentimentos que precisam ser explicados e compreendidos.

A depressão pós parto pode desenvolver uma série de comportamentos, do mais hiperativo e auto-suficiente ao de tristeza e melancolia. Em diversas situações, a reação da mãe é uma forma de expressão de suas necessidades emocionais. A carência de atenção, quase como uma competição com o bebê é uma delas. Ela quer ser tão comemorada como o bebê, como um pedido de atenção à sua mãe, que originalmente se separou dela no nascimento.

Em outros casos, ela se sente incapaz de cuidar do bebê e isso a deixa deprimida. Seus sentimentos de fracasso reforçam sua necessidade de ser cuidada pelo marido ou pela mãe.

Imagem: Pinterest

Terceiro preconceito: Não é apenas a melancolia e a retração que são sintomas da depressão pós parto. Vários outros comportamentos podem indicar a necessidade de acompanhamento, inclusive o estado de extrema euforia e auto-suficiência.

As consequências do não acompanhamento podem ser diversas, até mesmo porque existe um limiar difícil de ser definido entre a depressão pós-parto normal e a patológica, conhecida como psicose puerperal. Feridas no sentimento da mãe e dos familiares podem trazer desde consequências físicas e imediatas como febre, diarréia, dores de cabeça, inapetência e também emocionais que desestruturam o julgamento do apreço pela própria vida da pessoa. Para o bebê que nasce também há sérias consequências, pois ele sente o estresse do ambiente, e pode ter dificuldades para a alimentação, desenvolvimento de forma geral e irritação.

A primeira medida a ser feita é acabar com os julgamentos e iniciar uma rede de apoio que faça as gestantes se sentirem protegidas e não julgadas. Depois, é preciso buscar a ajuda de especialistas que possam ajudar as parturientes a entenderem seus sentimentos e lidar com as situações. Alguns casos serão tratados com medicamentos, outros apenas com o acompanhamento psicológico. Mas em todos os casos, precisamos ter respeito pelos sentimentos dos outros.

Amanda Gusmão

Mãe de dois meninos e de um blog, sou daquelas que tropeça e ri do próprio tombo. Mais normal que arroz com feijão, gosto de levantar a bandeira das "Sem bandeiras" na maternidade. Maternidade simples e divertida. Vamos lá?

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Amanda Gusmão

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