Hoje a entrevista é com a mamãe Amanda Gusmão, colunista aqui do Sou Mãe e fundadora do Unidunikids, um blog para falar da maternidade simples, sem firulas e meias palavras.
Aqui vocês conhecem ela principalmente pela coluna Maternidade Insana, onde fala das loucuras de nossa vida de mãe!
Amanda é mãe de 2 meninos, Felipe com 7 anos e Pedro de 2 anos.
1. Qual foi a maior coisa que você teve que abrir mão nesses últimos anos?
“Abrir mão” para mim significa aceitar não ter algo que gostava, que apreciava. Eu escolhi “meus filhos” em diversos dilemas da vida em sociedade, mas fazer essas escolhas nunca me fez sentir estar abrindo mão de algo. Por exemplo, eu parei de trabalhar fora para cuidar dos meus filhos. “Abri mão” de ter um salário, de ter conversas entre adultos, de ter uma rotina mais ou menos padronizada. Mas eu sinto que ganhei muito mais do que perdi nessa escolha, então não sinto que tive que deixar de ter algo que gosto.
2. O que você faria se tivesse 3 horas a mais no seu dia?
Outra pergunta difícil! Se eu tivesse 3 horas a mais com meus filhos, gostaria de ensiná-los um pouco mais sobre caridade, sobre ajudar o próximo. Gostaria de levá-los para ajudar crianças carentes, conversar com idosos nos asilos, conhecer projetos de preservação ambiental, enfim, ensinar através das experiências.
Mas se fossem 3 horas só para mim, me daria os prazeres mundanos! Gostaria de fazer massagem, meditar, ler, dormir, fazer as unhas, ir à academia, brincar com os filhos das minhas irmãs sem ter que vigiar os meus, conversar com a minha mãe, minha avó, fazer um curso de culinária, terminar o curso de psicologia, ler os manuais de tudo que comprei nos últimos tempos e não tive tempo de ler e aprender todas as funções.
3. Ser mãe fez você ficar mais careta?
Ser mãe não, mas acho que o tempo me deixou mais careta. Ser mãe me deu uma licença para fazer coisas idiotas em qualquer lugar. Outro dia estávamos em um engarrafamento e começamos a fazer um campeonato de grito de rodeio no carro. Não entendemos nada de rodeio, nunca fomos em um. Mas imitávamos os locutores igual a três loucos (eu, meu filho de 7 anos e o mais novo de 2 anos e meio) enquanto todos os carros e motos parados em nossa volta nos olhava. Vagamente me passou pela cabeça que eles estavam me achando doida, mas o pensamento “eu sou uma mãe legal, eu sou uma mãe legal” prevaleceu e demos boas risadas.
4. No momento o que você mais precisa? conversar ou ficar em silêncio?
Eu filosofo pra caramba. Falo e penso muita abobrinha. Por recomendações de terceiros, acho que o melhor seria ficar em silêncio e poupá-los das minhas maluquices. Para fingir ser “normal”, diria conversar. Mas o que eu acho que nesse momento eu mais preciso é chorar, desabar em lágrimas e tirar um pouco a armadura de alguém que está nesse mundo para proteger outras pessoas e fingir que está tudo bem. E chorar no sentido só de se mostrar frágil, não no sentido ruim e triste.
5. O que mudou nas suas amizades desde que seus filhos nasceram?
Tenho poucas e boas amizades. O sentimento por elas não mudou nada, mas os programas e encontros mudaram um pouco e ficaram menos frequentes. Meus programas ficaram mais diurnos e também ganhei novas companhias de mães dos coleguinhas dos meus filhos.
6. Você tem medo de que?
Tenho medo de falhar com meus filhos. E também tenho medo de morrer sozinha, de fantasma, extraterrestre e de atropelar alguém.
7. O que você aprendeu com seus filhos?
Nossa! Aprendi e continuo aprendendo muito. Nas minhas convicções, somos quatro indivíduos que estão aprendendo e ensinando juntos. Respeito meus filhos não como crianças, mas como indivíduos que fisicamente estão em desenvolvimento diferente do meu, mas que espiritualmente podem ser muito mais evoluídos do que a mim.
Do ponto de vista prático, meus filhos me colocam frequentemente questionando minhas atitudes. Parece bobo de exemplificar, mas em uma situação de perigo, como eu deveria prestar socorro para os dois individualmente? Ou na rotina comum do dia-à-dia, numa briga que um estimulou mas o outro perdeu a razão, como explicar que o fato que desencadeou a briga é tão ruim como o ato de brigar? Como eu disse antes, filosofo demais…..*risos
8. Qual foi o maior desafio que você enfrentou com a maternidade?
O maior desafio que eu enfrentei na maternidade foi “não estar”. Quando voltei da licença maternidade do meu segundo filho eu tinha uma rotina absolutamente sacrificante. Se o sacrifício fosse só meu, aguentaria por muito mais tempo. Mas o fato de não estar disponível para meus filhos em um nível mínimo me deixou extremamente triste, pois vi que estava sacrificando eles também.
Lembro de um dia em que saí do trabalho correndo para buscar os meninos. Quando liguei o carro já sabia que estava 10 minutos atrasada para pegar o primeiro e que a avenida que tinha que atravessar estava completamente engarrafada. Eu nem ligava o rádio nesses dias, ele não me distraia. Quando eu cheguei na escola, meu filho estava sozinho, sentado no chão e olhando tristemente para o tempo. Aquilo dilacerou meu coração. Eu queria abraçar, pedir desculpas e dizer que nunca mais iria acontecer, mas ao invés disso, eu tive que passar por cima da tristeza dele com toda a minha pressa de chegar no outro berçário para pegar meu outro filho antes do horário de fechamento. Isso me doeu. Muito. Saber que meu filho precisava de mim ali antes e eu não estava lá. Saber que ele precisava de mim naquela hora para dar aconchego, mas eu também não estava lá pois minha cabeça já estava explodindo com os outros poucos minutos que faltavam para pegar o outro filho. Então, o “não estar” em diversos momentos foi o maior desafio da maternidade, pois também existia o conflito sentimental dentro de mim.
9. Cite 3 coisas pelas quais você pode ser grata hoje.
Nossa família.
Nossa saúde.
Por não ser perfeita e ter muito o que aprender.
10. Dê uma dica de mãe para mãe.
Não consigo dar um conselho só….
Não se cobre demais. Não tente ser igual a nenhuma outra mãe, nem mesmo a sua. Seja você mesma.
Seja inteligente para usar os recursos. A tecnologia está aí, não adianta você esconder ela dentro do armário para seu filho não ver. Use ela a seu favor. Ipad pode? Pode na medida certa, no momento certo e com o conteúdo certo. Você viu uma colherzinha inteligente que indica quando a comida está quente e não sabe se deve comprar. Uma pergunta simples, você ou a colher sabe o que é melhor para seu filho?
Leia sempre. Não basta ler o livro que todas as mães estão comentando e começar a praticar o que ele diz. Você precisa comparar as idéias, pensar se elas são compatíveis com o seu estilo de vida. Existem milhares de conteúdos espalhados na internet e em livros que são tendenciosos. Você precisa ler muito para saber no que acreditar e o que serve para você
E principalmente, não se esqueça de você.
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