Gravidez – O parto humanizado, o bom senso e o respeito à grávida

Antigamente todos os partos “não-cesarianos” eram chamados de “parto normal” e os “partos cesarianos” eram chamados simplesmente de “cesariana”. Era simples, né? Mas não era justo. Dentro do universo de partos chamados “normais”, haviam também muitos outros absurdos e com violência obstétrica e desrespeito à família, mesmo durante a gravidez e o acompanhamento pré-natal.

E com isso, após discussões calorosas entre pessoas que defendiam o parto normal e pessoas que defendiam o parto cesariana, entre bandeiras levantadas e guardadas, campanhas governamentais e movimentos sociais, nasceu o parto humanizado. Bom, pelo menos a nomenclatura exclusiva para eles.

Não sei se posso dizer, mas acredito que junto ao parto humanizado, também nasceu os “gêmeos bivitelinos” bom senso e respeito à grávidamas eles ainda precisam crescer muito.

Mas diga aí, o que significa “parto humanizado”?

O parto humanizado não é um procedimento, não tem orientações ou etapas a serem concluídas. O parto humanizado é o ato de respeitar a natureza do corpo da mulher e sua capacidade de parir seu filho naturalmente. Neste caso, a mulher e o bebê são os responsáveis por toda a dinâmica do parto, e os demais envolvidos apenas auxiliam no processo, que vai ser diferente para cada mulher e bebê.

Os cuidados na gravidez, as informações e motivações que a mulher recebe no pré-natal já fazem parte do parto humanizado, pois é dado à ela as informações de tudo o que pode ocorrer no momento do nascimento do bebê. Empoderada de informações e ciente de seu protagonismo, a mulher durante o parto compreenderá tudo o que se passa, inclusive se o médico indicar a necessidade de alguma intervenção.

Pixabay

Algumas características do parto humanizado

Como disse, as possibilidades são tão infinitas como a singularidade de cada mulher, mas alguns aspectos estão sempre presentes na discussão sobre o parto humanizado.

Anestesia e ocitocina para indução

O corpo da mulher é preparado para gestar o bebê e também de parí-lo. A dor é uma ferramenta de controle do parto para a mulher, o que faz o uso de anestesia não ser comum no parto humanizado, pois diminui a consciência corporal da mulher.

A indução do parto através da ocitocina sintética também diminui ou anula por completo a consciência corporal da mulher, pois aumenta a dor acelerando o parto.

A mulher sendo protagonista do parto não “será informada” que receberá anestesia. Ela será questionada se deseja receber anestesia em total respeito aos seus desejos e também em um cenário administrado pelo obstetra, que intervirá veementemente se houver risco à vida.

Episiotomia (corte do períneo) x Laceração – preparação na gravidez

A episiotomia é um corte feito cirurgicamente no períneo para ajuda na saída do bebê. A laceração é uma possível consequência da passagem do bebê se o períneo não se esticar naturalmente.

No parto humanizado, a

“episio” (sim, ela tem esse apelido nada fofo) não é comum, mas a laceração pode se dizer que sim. Existe uma grande discussão sobre as duas e a recuperação da mulher depois delas. Algumas dizem sentir dores na região da episiotomia mesmo depois de muitos meses, inclusive nas relações sexuais.

Outras mulheres que tiveram lacerações de alto grau (elas são divididas em grau de impacto) que envolvem até a esfíncter anal também relataram dificuldades de recuperação e até infecções graves.

O ideal é compreender essas duas de forma mais completa e também preparar o períneo durante a gravidez, fazendo massagens regularmente e evitar que qualquer um dos dois aconteça.

O tempo de parto

Durante a gravidez a mulher deve conversar com o médico sobre as expectativas e desejos que tem relacionados ao momento do parto e ser bem clara, pois infelizmente muitos médicos ainda fazem parto “em série”, pensando apenas em acabar logo e passar para o próximo nascimento.

Por respeitar o tempo e a fisiologia do corpo da mulher, o parto humanizado pode demorar mais tempo. Mas consciente do corpo e de todo o processo, boa parte deste tempo pode ser passado em casa e não necessariamente no hospital. Aliás, o parto não necessariamente precisa ser no hospital.

O local do parto

O local do parto pode ser escolhido pela mãe durante a gravidez, respeitando as condições de segurança para a saúde. Parto domiciliar, na banheira, no hospital. Isso influencia diretamente no lado psicológico da grávida, e até a preparação do ambiente com músicas, luzes mais quentes e acolhedoras podem ajudar, e tudo isso é possível em um parto humanizado.

A frieza das salas de parto em hospitais – Imagem: Pixabay

Os primeiros cuidados após o parto

As mulheres que optam pelo parto humanizado precisam organizar um plano de parto detalhado, pois o momento de dor e alegria tiram seu “foco”. Nesse momento o papel do acompanhante se mostra muito importante.

Os primeiros cuidados logo após o nascimento como nitrato de prata nos olhos do bebê, teste do pezinho e desobstrução das vias aéreas podem vir no segundo plano, após o toque pele à pele de mãe e bebê e a primeira amamentação. O próprio corte do cordão umbilical também deve ser feito conforme a solicitação da mãe e pode ter grande influência na saúde do bebê.

Por todos esses fatores, compreender ainda na gravidez o parto humanizado e sua dimensão é muito importante. É trazer consigo o gêmeo “bom senso” e encontrar na sala de parto o irmão “respeito à grávida”, pois o papel atuante da mulher no parto não é somente na hora de “fazer força”, mas sim de saber o que é melhor para ela e o bebê, mesmo que isso signifique aceitar conscientemente uma intervenção médica em prol da vida.

Amanda Gusmão

Mãe de dois meninos e de um blog, sou daquelas que tropeça e ri do próprio tombo. Mais normal que arroz com feijão, gosto de levantar a bandeira das "Sem bandeiras" na maternidade. Maternidade simples e divertida. Vamos lá?

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