A mulher brasileira em geral é conservadora com seus cabelos, que são em sua maioria, longos. Bom, pelo menos quando jovens e solteiras. Lógico que algumas fogem do padrão, mas em geral é isso aí.
O cabelo da mulher faz parte do ego dela, é uma extensão física da auto-estima, dos seus sentimentos, da sua forma de viver e pensar, mesmo que as vezes sob influência de uma sociedade quadrada.
Na minha infância o “ideal de beleza” eram princesas e Barbies, com seus longos cabelos loiros e lisos. Eu não tinha uma princesa Valente para me apoiar, nem uma Anna (Frozen) em seu “bad hair day” para me enxergar nela. Mas sobrevivi à infância melhor do que na adolescência.
O que aprendi sobre meu cabelo na adolescência
Na adolescência, na descoberta dos amores e crises existenciais, descobri que meu cabelo era também uma ferramenta de sedução e de expressão. Também aprendi outras coisas como:
- Os hormônios da puberdade deixam o cabelo muito ressecados
- Neutrox não era um condicionador muito bom
- Fazer “touca” ou “girar o cabelo” não era tão fácil quanto parecia
- Meu cabelo era tão temperamental quanto meu humor.
- Gelatina no cabelo definitivamente não funcionava para mim
Porque gelatina no cabelo não funciona, minha filha?
Com toda essa perspectiva capilar catastrófica, eu precisava de alguém para deixar meu cabelo mais “Barbie”para as festinhas da escola, então um dia resolvi recorrer à minha mãe. E ela me convenceu que cabelos cacheados com gelatina incolor estavam na moda, e que eu iria arrasar. Bom, eu acreditei nela e deixei meus cabelos temperamentais nas mãos dela.
Acontece que na hora de aplicar a gelatina, só tinha de MORANGO! E minha mãe, que não queria me deixar na mão e não sabia o significado da palavra “mico”, disse que não teria problema. Realmente, meu cabelo não apodreceu, nem coisa do tipo. Mas eu fiquei com cheiro de morango por duas semanas, minha roupa ficou toda respingada de vermelho durante a festa e pensando agora no momento, acho que a música “Eduardo achou estranho e melhor não comentar, mas a menina tinha tinta no cabelo” cairia bem para o momento.
Mas para falar a verdade, gosto de lembrar desta história para dar boas risadas, não sofri tanto assim não. Passando a adolescência e entrando no início da fase adulta eu virei um camaleão.
Os experimentos capilares
No início da fase adulta, quando você começa a ganhar seu próprio dinheiro e não precisa pedir para sua mãe, eu experimentei todas as cores possíveis, mantendo sempre os fios longos, é claro. Preto, vermelho, negro, henna, mechas, loiros escuros, marrom acobreado e tudo mais que vendiam em caixinhas, porque apesar de ganhar meu próprio dinheiro, não era uma fortuna!
A gravidez e o casamento
Os anos passaram, parei de pintar e continuei a cortar centímetros insignificantes no salão, quase morrendo do coração toda vez que passavam com a tesoura nos fios. Daí veio o casamento. Tinha que deixar ele grande para o arranjo do cabelo. Era o que eu acreditava e todo mundo dizia.
Sem entrar em muitos detalhes da ordem cronológica das coisas, a gravidez que chegou um pouco antes do casamento fez alguns fios caírem. Isso me chateou um pouco, não vou negar, mas só fui mexer no meu cabelo mesmo depois que meu primeiro filho nasceu.
“Eu tinha que ter um corte de cabelo de mãe”
Existe isso? Eu achava que sim. Um pouco pelo trabalho que aquele cabelo enorme me dava, e um pouco pelo desejo de mudança. Como o cabelo é a extensão da auto-estima, achava que aquilo revolucionaria minha vida (sabe de nada, inocente!). Cheguei no salão e mandei cortar. Um cabelo que batia quase na cintura foi parar um pouco abaixo do ombro (foto acima), e eu AMEI!
Fiquei um tempo assim, ele cresceu um pouco (muito) e então veio a segunda gravidez e o segundo filho. A vontade de mudar de novo me fez recorrer novamente à tesoura do cabelereiro. Cortei outro “corte de mãe”, o Long Bob. Fiquei pouco tempo com ele, não curti. Aí veio uma nova fase na minha vida, a de ser feliz cuidando dos meus filhos.
Tudo muito romântico, muito lindo, só que não. Quem me acompanha a mais tempo sabe que não troco a possibilidade de ficar integralmente com meus filhos por nada, mas é fato que essa vida não é nada fácil. As cobranças são enormes, os desafios, as limitações são muitas. Mas as alegrias também. E no meio desse turbilhão de sentimentos, vivências e fraldas, conheci o Pixie. Achei o nome lindo, mas o corte mais ainda!
Namorei por um mês vários cortes, pesquisei sobre a melhor opção para um rosto redondo como o meu, como cuidar, como arrumar. Discuti com meu marido sobre o corte, porque mesmo tomando a decisão sozinha, queria saber a opinião dele. Chorei de nervoso. Mas daí, um belo dia, resolvi cortar.
Quando eu fico feliz com alguma coisa tenho uma dificuldade enorme em parar de sorrir. Nesse dia, sorri até para meu carro. Sorri para o cabelereiro, porteiro, para minha sombra! Meu marido levou um susto quando me viu, não sei se era a reação que eu esperava, mas ela não me abalou.
Não posso chegar a nenhuma conclusão sobre o cabelo de todas as mulheres, essa é a verdade. Mas sobre os meus posso dizer que eles já me fizeram sentir feia, já fizeram me sentir linda! Hoje eles me fazem sentir pouco interesse na opinião alheia. E já penso nele grisalhinho, sem pintura! Mas essa parte vou deixar para “cenas do próximo capítulo”.
Isso mesmo, consigo pensar em tudo isso a respeito do meu cabelo! E quer saber porque? Bom, porque o cabelo da mulher é a extensão dos seus sentimentos, e meus sentimentos são tudo isso aí que vocês viram, uma insanidade só!
*Ps: Desculpe a overdose de fotos minhas! E desculpe se faltaram as da adolescência, das cores e etc. Nunca fui de tirar muitas fotos minhas, acho que foi outra coisa que aprendi só depois do “Pixie”!