Que mãe não conhece a famosa Galinha Pintadinha? Você sabia que em 2018, o canal da Galinha Pintadinha ultrapassou em visualizações até mesmo grandes nomes da música mundial como a Rihanna e o Justin Bieber, ela acabou ficando no ranking entre os vídeos mais populares do YouTube, e isto não foi à toa.
Uma pesquisa que foi divulgada em setembro de 2018 pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil mostrou que 85% das crianças e adolescentes com idades entre 9 e 17 anos são usuárias de internet, o equivalente a 24,7 milhões que estão nesta faixa etária em todo o País.
Se em 2012, 21% das crianças acessaram a rede por meio do celular, em 2018 foram 93%.
Esse aumento impressionante de acesso a internet tem preocupado cada vez mais os pais e profissionais que lidam com os pequenos e coloca em questão o possível vício infantil em eletrônicos. E agora o que fazer?
A neuropsicóloga Roselene Espírito Santo Wagner é uma das especialistas que tem estudado esta guinada no comportamento infanto-juvenil:
“Precisamos considerar que a tecnologia, já está incorporada à vida. O celular hoje é mais que uma ferramenta, tornou-se uma dimensão humana muito frequentada. O smartphone hoje é mais que televisão, é “biblioteca”, é jornal, cinema, é playlist, dicionário. Estamos reféns dele. No entanto, embora seja inevitável a presença e o uso do celular no cotidiano, é necessário explicar e fazer a criança entender que a tecnologia é um meio para um fim, e não o contrário”.
Hoje é muito mais fácil fazermos transações bancárias, ler notícias, pesquisar imagens, e até marcar consultas médicas. Tudo está ali na palma da mão. Basta um toque. Não temos mais como desconectar. Mas até onde isto é saudável para a criança e o adolescente? A Dra. responde:
“Todos nós devemos aprender a usar a tecnologia com parcimônia. Isto é, encarar como uma ferramenta de resolução de problemas de ordem prática, rápida e superficial. Esta ferramenta tecnológica pode ser usada inclusive com fins recreativos, porém, nós não devemos usá-la abusivamente, para não virarmos dependentes. A dependência é uma “doença comportamental” em todos os seus aspectos, logo retirando o comportamento, retiramos também a doença. Mas a facilidade de se adquirir o hábito e transforma-lo em vício não condiz com a dificuldade de sair desta armadilha”.
A Dra. Roselene Espírito Santo Wagner traz algumas dicas para retirar as crianças do celular e evitar o vício dos pequenos. Confira:
1. Ensinar a criança a lidar com o tédio
E, primeiro lugar é necessário ensinar a criança a lidar com o tédio (sim, tédio faz bem), para que comecem a entender e trabalhar algo que acontecerá na vida, que é a frustração (além do tédio ser bom para ajudar no desenvolvimento da criatividade das crianças). Aprender a lidar com frustrações é pedagógico e terapêutico. Nosso cérebro se devolve de trás para frente. Portanto, não tenha medo de conversar e explicar as formas de lidar com a rotina e disciplina dentro dos sistemas familiares. A área de Wernicke responsável pela compreensão, interpretação da fala, fica pronta antes da área de Broca, responsável pela emissão da fala.
As crianças mesmo não falando tudo corretamente, compreendem tudo o que lhes é explicado (de forma simples).
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2. Explique, converse e estabeleça limites
Dar limites também é sinal de amor. Crianças precisam compreender o funcionamento do mundo. Cabe a nós adultos, pais e cuidadores, explicar sobre esses limites. Observar a natureza de seu filho, as inclinações naturais, os gostos, as habilidades, a estrutura do corpo para perceber onde ele “caberia melhor”. No âmbito de uma atividade física, isso significa dizer que o corpo já vem “talhado” com características que facilitariam uma atividade. Identificar no seu filho para quais atividades que ele tem pré disposição, gosto ou aptidão pode ajudar muito a produzir uma rotina onde ele possa se adequar. E ter prazer nesta atividade.
Ensinar que um bom dia começa com a organização do seu espaço, o quarto em que dorme, produzir uma convivência de união familiar, onde todos os sistemas (sistema conjugal, parental, etc.) devem ser tido como uma “equipe”. Onde cada um pode colaborar com uma tarefa, colocar a mesa, retirar as louças, levar o lixo. Tudo isto tem a ver com limites e educação.
3. Dê atividades para o seu filho
Crianças gostam (e precisam) de ar livre. Leve seu filho para atividades ao ar livre, como pedalar, passear, caminhar, praia, piscina. Ter lazer, atividades intelectuais, responsabilidades e até mesmo bom sono.
Crianças adoram estar com outras crianças, em acampamentos, noite do pijama, sessão de cinema, piquenique.
Crianças também amam animais. Então visite um zoológico, dê de presente um animal de estimação que ele possa “cuidar” (de acordo com sua idade claro). Conforme elevai crescendo, vai se apropriando e tomando mais responsabilidades sobre este “ser vivo” que exige cuidados e carinho.
Todas essas atividades irão retirando o “tempo de uso” do celular, tablet e tv. Claro que a retirada total é quase que impossível, pois, há uma “necessidade ” do uso da tecnologia, inclusive por ser uma forma rápida, prática de “estudar”, fazer trabalho de aula e afins.
Qual a melhor forma de prevenção do vício em celular?
A Dependência Digital é de difícil tratamento, mas a melhor prevenção é a Psicoeducação, no sentido de desenvolvermos uma rotina saudável desde crianças, pois, os “nativos digitais”, nascidos na era “virtual” são mais propensos a tornarem-se “adictos virtuais”. Então ainda que as crianças não sejam capazes de emitir, falar todas as palavras de forma correta. Elas estão aptas a compreender quase tudo, por isso, é preciso acompanhá-las em todas as fases de seu desenvolvimento. Ensinando, preparando, guiando e amando.