Não menospreze a gravidez psicológica. Sabe porquê?

Estar grávida é um estado de graça para uma mulher. Além de ser a confirmação de que seu corpo funciona perfeitamente, é um momento de grande atenção e realização pessoal para ela e para as pessoas que a cercam.

A gravidez psicológica, ou pseudociese, é uma síndrome clínica na qual uma mulher (não grávida) desenvolve uma forte convicção de que está grávida, a partir de sintomas comuns de uma gravidez, como o atraso do ciclo menstrual, enjoos, enrijecimento dos seios e escurecimento do bico do seio entre outros ou desencadeando por estímulos do cérebro para a produção de hormônio como a Prolactina, por exemplo. Não pode ser confundida com alucinações esquizofrênicas ou simulação de uma gravidez para tirar vantagens. Ela é bem específica.

Como o próprio nome já diz, tem origem psicológica em seus mais diversos aspectos e possibilidades, por isso é difícil limitar também suas causas. Alguns estudos da medicina constataram que o número de ocorrências na África é muito maior do que nos demais países, que a faixa etária com maior número de casos é entre 20 e 44 anos, e que 80% das mulheres afetadas são casadas.

Todas essas informações cruzadas sobre a gravidez psicológica não respondem o questionamento do porque isso ocorre, fisiologicamente ou psicologicamente. Mas elas trazem algumas conclusões, como por exemplo o fato da cultura africana valorizar e considerar a fertilidade uma dádiva e uma obrigação da mulher. Uma mulher com dificuldade de engravidar numa cultura aonde isso é quase uma obrigação para ela causa sérios danos psicológicos, estresse e sentimento de inferioridade que podem desencadear uma gravidez psicológica. O mesmo ocorre com mulheres casadas em geral, que indiretamente são cobradas à aumentar a família tão logo se casam. Mesmo que através de uma brincadeira, qual mulher não ouviu logo depois que casou “e os filhos, quando virão?”.

Além das pressões externas e culturais, existe o desejo legítimo e íntimo da mulher de

ter filhos. Em casos de mulheres com problemas de infertilidade ou que tiveram episódios de aborto, como um bloqueio para o sofrimento de não ter uma gestação, ou por um sufocamento sentimental de tristeza, a pseudo gravidez é um “mecanismo de defesa”.

A Ale Nunes conta nesse post AQUI sobre o longo caminho entre a Fertilidade e a Maternidade. Acho que faz parte um pouco da realidade de algumas tentantes, e ela transmite toda essa carga de sentimentos que o processo tem!

Algumas mulheres também podem considerar o nascimento do filho como garantia de manter seu casamento. A relação conjugal pode estar excelente ou também pode estar em crise, mas um instinto quase selvagem da mulher a faz acreditar que isso manterá eternamente seu casamento, por amor, por status ou por conveniência financeira. E na direção contrária, o medo de engravidar também pode acabar gerando uma gravidez psicológica. Esse medo pode ter sido gerado de várias maneiras, desde um descuido até um abuso.

Expondo todos esses sentimentos tão primários e quase irreais, é de se pensar que isso não faz parte da minha ou da sua realidade. A verdade é que esses sentimentos habitam nosso inconsciente, e a ele não podemos consultar diariamente ou até mesmo controlar. Podemos não ter uma gravidez psicológica, mas todas devemos saber do poder dos nossos sentimentos perante nosso corpo

Como tratar a gravidez psicológica?

A gravidez psicológica deve ser tratada por psicólogos e psicoterapeutas, além de outros profissionais por eles indicados, em casos aonde medicações anti-depressivas poderão ser necessárias. Fazer os exames laboratoriais pode ser importante, mas existe a possibilidade da negação do resultado. Cerca de 1% das mulheres que tem gravidez psicológica relatam sentir dores do parto após 9 meses de pseudo gestação.

Por isso, parentes e amigos devem dar acima de tudo apoio. Não devemos nunca menosprezar o poder dos nossos sentimentos.

fonte: Indian Journal of Psychiatry, 2008 – doi:  10.4103/0019-5545.42398 e outros

 

Amanda Gusmão

Mãe de dois meninos e de um blog, sou daquelas que tropeça e ri do próprio tombo. Mais normal que arroz com feijão, gosto de levantar a bandeira das "Sem bandeiras" na maternidade. Maternidade simples e divertida. Vamos lá?

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