Nas últimas décadas, profissionais da saúde, pesquisadores e famílias têm observado um aumento preocupante no número de diagnósticos de doenças neurológicas em crianças. Condições como transtorno do espectro autista (TEA), transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), epilepsia, paralisia cerebral, distúrbios do desenvolvimento da linguagem, além de problemas de ansiedade e depressão infantil, estão cada vez mais presentes nos consultórios pediátricos e neurológicos.
Mas o que está por trás desse crescimento? Por que tantas crianças têm apresentado desafios neurológicos? Como os pais podem identificar sinais de alerta e buscar apoio? Neste artigo, vamos explorar as possíveis causas desse aumento, seus impactos e como famílias e profissionais podem atuar para oferecer às crianças a melhor qualidade de vida possível.
O crescimento das doenças neurológicas em crianças: causas, impactos e como agir

O que são doenças neurológicas infantis?
As doenças neurológicas infantis são condições que afetam o cérebro, a medula espinhal ou os nervos da criança, impactando o desenvolvimento motor, cognitivo, emocional ou comportamental. Algumas dessas condições são de origem genética, enquanto outras podem ser provocadas por fatores ambientais, infecções, traumas no parto ou complicações gestacionais.
Entre as doenças neurológicas mais comuns em crianças, podemos citar:
- Transtorno do Espectro Autista (TEA): uma condição que afeta a comunicação, o comportamento e as interações sociais.
- TDAH: transtorno caracterizado por impulsividade, desatenção e hiperatividade.
- Epilepsia: distúrbio neurológico que leva a crises convulsivas ou alterações súbitas de consciência e comportamento.
- Paralisia cerebral: condição causada por lesões cerebrais durante a gestação ou no parto, afetando o controle motor.
- Transtornos de aprendizagem e linguagem: dificuldades em habilidades como leitura, escrita, fala ou interpretação.
Além dessas, quadros de ansiedade, depressão e distúrbios sensoriais também têm aumentado entre crianças.
Por que esses casos estão crescendo?
Diversos fatores contribuem para o crescimento das doenças neurológicas em crianças:
- Melhora no diagnóstico e maior conscientização
Antigamente, muitos desses transtornos eram subdiagnosticados ou confundidos com “timidez”, “birra” ou “preguiça”. Hoje, profissionais e famílias estão mais atentos aos sinais e buscam ajuda mais cedo. Isso, por si só, já contribui para o aumento no número de casos detectados. - Mudanças ambientais
Pesquisas sugerem que fatores ambientais, como exposição a poluentes, agrotóxicos, metais pesados e até algumas infecções virais durante a gravidez, podem influenciar o desenvolvimento neurológico do bebê. A urbanização e o aumento da poluição atmosférica também são apontados como possíveis agravantes. - Fatores genéticos e epigenéticos
Embora algumas condições tenham origem genética, o ambiente também influencia na expressão desses genes. Fatores como estresse materno na gestação, dietas desequilibradas, falta de nutrientes essenciais e até o uso excessivo de dispositivos eletrônicos desde a infância têm impacto na saúde cerebral das crianças. - Vida moderna e estímulos excessivos
O excesso de telas, a redução das brincadeiras ao ar livre, a falta de interação social presencial e a correria da vida moderna influenciam o desenvolvimento neuropsicológico. As crianças precisam de experiências sensoriais reais, contato com a natureza, movimento e brincadeiras criativas para um desenvolvimento cerebral saudável.
Sinais de alerta para os pais ficarem atentos
Detectar um transtorno neurológico o quanto antes é fundamental para iniciar intervenções precoces e garantir uma melhor qualidade de vida à criança. Alguns sinais de alerta incluem:
- Atrasos no desenvolvimento da fala, da marcha ou da coordenação motora;
- Dificuldades de socialização ou falta de interesse por brincadeiras interativas;
- Irritabilidade excessiva, crises frequentes de choro ou agressividade;
- Dificuldade de atenção, concentração e memória;
- Movimentos involuntários, tremores ou convulsões;
- Sensibilidade extrema a barulhos, luzes ou texturas;
- Ansiedade constante, medos exagerados ou tristeza prolongada.
Caso os pais observem qualquer um desses sinais, é importante buscar avaliação com um neuropediatra ou outro especialista.
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Impactos das doenças neurológicas na infância
Além dos desafios que cada condição traz para o próprio desenvolvimento da criança, as doenças neurológicas também podem impactar o ambiente familiar e escolar. Muitas crianças enfrentam dificuldades de inclusão, bullying, baixa autoestima e isolamento social.
Para os pais, lidar com um diagnóstico neurológico é um processo emocionalmente desafiador, que pode gerar culpa, preocupação e sobrecarga. Por isso, o acolhimento familiar e o suporte psicológico também são importantes.
Na escola, a adaptação do ambiente e o preparo dos educadores são fundamentais para que a criança consiga se desenvolver no seu tempo, sem sofrer exclusão ou discriminação.
Como as famílias podem agir?
Se há uma suspeita ou confirmação de diagnóstico neurológico, o primeiro passo é buscar orientação profissional qualificada. Além disso:
- Invista em intervenções precoces: quanto mais cedo começarem as terapias (fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicoterapia, psicopedagogia), melhores são os resultados no longo prazo. Aqui vai uma observação importante, muitos pais notam os sinais de alerta nos filhos, mas infelizmente tendem a “negar” e não procurar ajuda justamente para não obterem um diagnóstico formal e arcar com todas as demandas e mudanças que isso trará… mas essa atitude tende a piorar a situação a médio e longo prazo, ou seja, por um tempo podemos “deixar as coisas como estão” e seguir em frente, mas o fato é que uma hora ou outra será necessário uma intervenção e nesse momento quanto mais tempo se passou , quanto mais tempo se demorou para iniciar um tratamento adequado, mais danos terão que ser reparados. Portanto não deixe o medo lhe paralisar, busque ajuda o quanto antes para que seu filho possa ter acesso a um tratamento adequado o quanto antes, de forma que ele possa ter chance de ter os danos minimizados.
- Crie uma rotina estruturada: crianças com desafios neurológicos se beneficiam de previsibilidade e organização.
- Reduza o excesso de telas: prefira brincadeiras manuais, leitura, arte, música e movimento.
- Alimente-se bem: nutrientes como ômega-3, vitaminas do complexo B e ferro são importantes para o funcionamento do cérebro.
- Participe de grupos de apoio: dividir experiências com outras famílias pode trazer conforto e ideias práticas.
- Cuide da saúde mental dos pais: o cuidado com a criança começa pelo bem-estar emocional dos adultos. Se não estamos bem dificilmente teremos condições de ajudar os outros, está aí o fato que devemos olhar primeiro para nós (pais) e depois estender as mãos aos cuidados dos nossos filhos.
O papel da sociedade e da escola
A sociedade também precisa estar preparada para acolher e respeitar crianças com condições neurológicas. A escola deve promover a inclusão, com adaptações pedagógicas, apoio psicopedagógico e capacitação dos professores.
É necessário que todos entendam que, embora algumas crianças tenham necessidades diferentes, elas são capazes de aprender, se desenvolver e contribuir de forma única para o mundo.
O aumento das doenças neurológicas em crianças é um fenômeno real, complexo e multifatorial. Cabe às famílias, aos profissionais da saúde, à escola e à sociedade estarem atentos, informados e acolhedores. Com diagnóstico precoce, intervenção adequada e muito amor, é possível garantir um futuro saudável e feliz para essas crianças.